terça-feira, 31 de março de 2009

Sobre o Pó de parede

Eu queria ler mais do que eu tenho lido. A questão é que eu passo o dia inteiro fazendo textos e mais textos para empresas, e à noite, quando eu chego em casa, só dá vontade de apertar o botão do desliga, ou seja, ligar a TV e assistir alguma série bem enlatada. Também é bom chegar e ver um bom filme, mas confesso que não consigo passar dos primeiros trinta minutos e logo caio no sono. Existe uma lista de mais de 50 filmes que eu só vi pela metade, não foi por que o filme era ruim, muito pelo contrário, mas eu simplesmente não conseguia ficar com os olhos abertos.

Ta, mas tudo isso foi para dizer que um dos melhores livros que li nos últimos tempos, durante o Carnaval, que foi chuvoso mas bom para colocar a leitura em dia, foi o Pó de parede. Primeiro livro da Carol Bensimon, uma guria muito legal que tem o dom da escrita como poucos desta nova geração de escritores gaúchos. O livro é dividido em três contos, que, com alguns toques irônicos e personagens muito particulares, têm em comum uma melancólica visão da passagem da adolescência para a vida adulta, mas sem ser clichê. A Caixa, a primeira história, é a minha preferida. Os personagens são a Alice e o Tomás, pré-adolescentes que pensam ser diferentes dos seus colegas. Alice mora numa casa diferente, que foi desenhada por um arquiteto que pensava além do seu tempo. A casa de formas modernas é motivo de comentários entre os vizinhos, que a chamam, de maneira irônica, de "A Caixa”.


“Como a casa dos Larsen estava abandonada desde o ano anterior, as folhas secas cobrindo o caminho até a porta, o que Tomás fez foi tirar uma tábua e passar pela janela quebrada, vendo então com raiva ao chegar lá dentro que outros já haviam estado ali, que haviam trazido garrafas e cigarros cujos restos amarelados lembravam confetes num final de festa, que haviam assinado seus nomes nas paredes e desenhado corações, o spray amador levemente escorrido em vermelho. O cheiro de lugar fechado, de coisa molhada e esquecida, bem marcava a tragédia dos Larsen. Tomás colocou a tábua no lugar e acendeu a lanterna. Fez o feixe de luz dançar pelas paredes até que cruzasse com a presença melancólica de uma poltrona rasgada, bem no meio da sala vazia. Não lembrava dela, mas por que os Larsen teriam deixado uma poltrona para trás?, com aquela postura aristocrática e perturbadora de qualquer coisa imitando o século dezenove. Subiu as escadas e, à medida que subia, sentia menos a presença dos invasores e mais a sua própria e também a dos Larsen. Subiu até o sótão e as tábuas rangiam e a janela estava difícil de abrir, mas cedeu num estalar de vencida. A melhor maneira de ver todo o bairro era mesmo a partir do topo do dois-cinco-um, como agora Tomás lembrava de ter feito com Alice tantas vezes e tantos anos antes, e olhando assim reencontrou primeiro as sombras dos jacarandás esticadas na calçada e logo mais a fila de casas adormecidas com seus sacos pretos de lixo à espera. Tomás sentou como sentava nas outras vezes, na beirada da janela e com a boa sensação de ter as pernas no ar. Tudo ainda se parecia. Nos pátios, lá estavam as piscinas, agora sem razão porque as crianças já haviam crescido. Os carros diminuíram de tamanho com os anos, mas os telhados ainda eram pontudos e com chaminés, mesmo que nunca fizesse tanto frio. Como em desenhos infantis.”


Quem quiser saber mais sobre o Pó de parede e outros livros muito legais da Não Editora pode acessar o site: www.naoeditora.com.br

terça-feira, 24 de março de 2009

Sessão da tarde

Teve gente que disse que as minhas referências foram um tanto quanto cabeças. Ta, ta, Truffaut e Vittorio De Sica podem ter causado essa impressão. A verdade é que muito conhecimento cinematográfico que eu tenho hoje eu devo ao meu excelentíssimo. Mas, antes dele, ou bem antes dele, confesso que minhas tardes eram regadas aos clássicos da sessão da tarde, em que a Molly Ringwald era a protagonista de quase todos os filmes. Fiz uma pequena lista dos filmes que, na época, gravei em VHS e que serão lembrados para sempre como clássicos de toda uma geração:

- Curtindo a vida adoidado (Ferris Bueller's Day Off, 1986)









- Dirty Dance (1987)









- Namorada de aluguel (Can´t buy me love, 1987)












-Gatinhas e gatões – (Sixteen Candles, 1984)



Mas, na minha opinião, a melhor cena dos clássicos da sessão da tarde vai para:

- A Garota de Rosa Shocking (Pretty in Pink) – 1986 -

quinta-feira, 19 de março de 2009

COM vontade de escrever

Queria muito escrever. Comecei a ter ideias e mais ideias sobre um filme que acabei de ver, This Property Is Condemned (Esta mulher é proibida), de 1967, com direção do Sydney Pollack e roteiro do Copolla, e que tem como protagonista a Natalie Wood. O filme me encantou pela história simples, mas muito bem construída. Gosto de histórias de cidades do interior. Também fiquei com vontade de escrever sobre uma banda que conheci há pouco tempo, o MGMT. As pessoas mais descoladas vão dizer que não foi nenhuma descoberta e que essa novidade já é antiga, pois o disco da dupla americana do Brooklyn foi um dos mais elogiados de 2008.

Também queria muito registrar a minha decepção com o Slum Dog Millionare (Quem quer ser Milionário?). Para mim, a oscarizada e elogiada fábula nada mais é do que um filme de bollywood com cara de novela brasileira, com muitas referências clichês e forçação de barra (suco de graviola, com cor de limão e gosto de tamarindo). Muito forçado em muitos sentidos. Só valeu a pena pagar o ingresso para ver a atuação do menino que fez a primeira versão do protagonista do filme. Criança é muito sincera, e quando sabe interpretar, então, vira a atração principal, como no maravilhoso Ladrões de Bicicletas, do Vittorio De Sica, O Garoto, do Charles Chaplin e Os incompreendidos do Truffaut.

Mas, foi quando eu ouvi a música Because the night, da Pati Smith (http://www.youtube.com/watch?v=uoGdx3I3dPE), que eu me decidi. Procurei um papel, uma caneta, sentei na mesa e comecei a escrever. Na TV estava passando Friends (Aquele que o Joe procura por uma gostosa no prédio do lado). Comecei a pensar no nome que este blog poderia ter, mas todo o nome que vinha na minha cabeça parecia que já existia ou dava a impressão de ser pretensioso, enfim, estava um pouco SEM inspiração para um nome. Eu não queria ficar SEM meu blog, então uni o útil ao agradável e deixei o blog SEM nome.